HISTÓRICO

Tradição mantida de geração em geração

Mana-chica do Gargaú.  Foto: Cris Isidoro / Diadorim Ideias
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Antes de ser um ajuntamento de amigos que cultuam uma tradição, o grupo Mana-chica do Gargaú é uma grande família. Todos os integrantes deste que é um dos últimos grupos do estado a preservar essa dança de pares - uma espécie de quadrilha de roça que mistura o fado com o ritmo frenético do arrasta-pé nordestino - são da mesma raiz, a família Faria. Aliás, uma família extremamente festeira, dona do Boi Pernambuco, que há mais de 70 anos arrasta multidões no carnaval de Gargaú, e do Boi 51, surgido em 2009.
Jean Barbosa, presidente do grupo Mana-chica do Gargaú, explica que o objetivo de tanto empenho da família é impedir a extinção da dança e continuar cultivando a tradição de geração em geração. “Somos poucos, mas a mana-chica está garantida com a nova geração Faria”, assinala Jean.
A "brincadeira" acontece, geralmente, no quintal da matriarca, Dona Laureci da Silva Barbosa, 77 anos, uma das principais incentivadoras e contadoras de histórias da mana-chica para os mais jovens. Na dança, as damas rodopiam suas saias na marcação das batidas dos tambores, violas, pandeiros e chocalhos, enquanto os cavalheiros batem com os pés no chão e fazem reverências, antes de dançarem com seus pares.


O grupo, formado por 40 pessoas, se reuniu há 12 anos para resgatar a tradição. E tem gente de todas as idades: o violeiro Marcos Arthur, 23 anos, acompanha o mestre Amaro Vancredo, o Amarinho, de 63 anos, e o canto de Antonio Barreto, 76. Tem dançarino de 12, 13, 15, 20, 50, 60 anos... Se depender deles, a mana-chica fluminense não esmorece. “Somos a segunda geração de mana-chiqueiros e fadistass. Há mais de 50 anos, nossos pais aprenderam, na localidade de Caboio, distrito de Santo Amaro de Campos dos Goytacazes, a mana-chica que dançamos e que resiste até hoje”, conta o mestre Amarinho.
Orgulhoso de participar da brincadeira, o mestre fica mais emocionado ainda quando dança ao lado seus filhos e netos: as terceira e quarta gerações da família Faria, que se diverte e canta antigas extravaganzas do tempo de seus pais.

“Menina mão direita, mão canhota

eu te dou a mão direita

que é de dona Maricota”

Os versos “fadistas”, com mais de meio século, ainda se repetem, incansavelmente, no quintal de Dona Laureci. Prova que a Mana-chica do Gargaú continua mais atual do que nunca. E eles avisam: novas composições, por enquanto, nem pensar. “Gostamos de manter a tradição e cultuar nossa herança tão rica”, completa Jean.